MEMÓRIAS DE UM PORTEIRO-louvor, clamor à Cidade Natal
Capítulo - I
Santo Estêvão das garotas bonitas, as
histórias de amor são escritas em tuas praças, onde a garota adolescente ganha
seu primeiro beijo e as ondas do amor afogam os corações meninos.
Nas tuas campinas se ouviu o canto dos
cardeais, que nas primeiras horas, já em claro, acorda o homem do campo para
trabalhar. Tuas praças têm árvores, têm palmeiras em frente à igreja matriz.
Tem andorinha batendo asas, beija-flor nos
teus jardins. Têm os Becos do Salgado e o Rio Curumatai. Tem a bata de feijão,
amendoim e batata doce. Têm os evangélicos pedindo para Deus abençoá-la.
As raízes de mandioca crescem no horizonte
deste solo, fazem farinha, tapioca, fazem beiju. Tem banana, manga e cana de
açúcar no quintal de seu Antõe.
Teus poetas desabrocham em canções e poesias.
Meu coração é uma comporta aberta cidade minha, que transborda rabiscos de
poesia na harmonia das tuas noites silenciosas.
Santo Estêvão dos amores roubados e de sonhos
sequestrados, da poetisa apaixonada que se encontra com seu amor em meio às
flores dos teus jardins. Em seu caderno de escrever surgem os primeiros versos.
Ouvi o canto dos pardais famintos e o barulho das asas dos pombos que passeiam
nas tuas praças.
Vi um preá atravessando a estrada. Vi uma
cobra, vi um sapo.
O inverno chegou, observo tua geografia, ouço
uma sinfonia de sapos na vargem alagada. O canto do grilo-esperança. Ouço o
barulho das carretas no asfalto molhado, sinto meu peito gelado do frio.
Ah! Santo Estêvão, da BR 116, cheia de
entradas e saídas. Muitas das tuas filhas se perderam nos entroncamentos da
vida, e tiveram seus sonhos roubados pelo prazer carnal. Suas virtudes foram
abandonadas nos acostamentos, e seus corpos receberam o carimbo de um motel.
Perderam-se nas estradas em busca de sonhos,
se tornaram escravas da ilusão, e já não conseguem mudar seus rumos. As suas histórias
são escritas com seu pequeno corpo nas boleias dos caminhões.
Santo Estêvão! Por onde andam suas famílias?
Elas enveredaram-se pelos caminhos capitalistas e não tiveram tempo para cuidar de seus filhos. Teu
comércio roubou os pais dos teus pequenos.
Santo Estêvão, cidade planície, do feijão
carioquinha, do mocotó de boi, do maxixe e do quiabo, em que canto teu está meu
amor? Amo, e sofro estas horas todas na construção de um sentimento que me
eleva às tuas montanhas verdejantes banhadas pelo rio Paraguassú.
São muitos teus habitantes, cidade minha. Já
são cerca de cinquenta mil. Teus jardins estão floridos, entre eles deve estar
meu grande amor sonhado. Em meu coração guardo muitos segredos, situações
provocadas pelo meu amor que aprendi a amar tão cedo.[...]